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segunda-feira, 26 de março de 2012

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O vento batia contra meus cabelos, levantando-os levemente...Eu mal os sentia, mas ainda assim, era uma sensação boa...Tão de repente, lembranças invadiram o momento, palavras a muito tempo ditas, soavam quase que em alto e bom tom para meus ouvidos. Mas infelizmente, não condizia com a realidade.
O cenário, tão perfeito, me transportava para um mundo de paz...Infelizmente, meu santuário de paz estava corrompido. 
Ouvi o som dos pneus quebrando o silêncio, e algo me dizia que a paz demoraria a retornar.
O som dos passos pesados chegava cada vez mais rápido em minha direção. Não me movi. Eu sabia quem era, e sabia seu propósito...E sinceramente, eu não tinha absolutamente nada a dizer.
Podia-se sentir a tensão pairando no ar que nos rodeava...A cada suspiro, a cada movimento, ainda que pequeno...Eu ainda tinha uma forte ligação com qualquer coisa relacionada a ele.E eu me odiaria para sempre por isso.
Ele - sim, ele.- se juntou a mim, sacou de seu bolso um maço de cigarros, e dele retirou 2, oferecendo-me um deles.
Aceitei-o ainda sem nenhuma palavra...O acendi, e como se algo tomasse conta de mim, traguei minhas angustias junto a aquele cigarro. Eu não estava feliz, e ele sabia disso.Afinal, ele era o culpado, não era ?
- Achei que tinha parado de fumar- sua voz, tão doce, tão serena...e ainda assim tão rude, tão sínica...
Fuzilei-o com um olhar. E então estremeci. Aqueles olhos escuros, incompreensíveis... Eu não podia ser fraca, desviei o olhar, e soltei a fumaça que estava em meus pulmões.
- Só me diga por que está aqui, e vá embora.
Ele se esgueirou para mais perto de mim, enquanto eu tragava o cigarro novamente, totalmente desconfortável por sua presença.
- Quero saber o que mudou.-Ele dizia.
- Acho que o mundo mudou...O que podemos fazer, é segui-lo. Se era só isso, pode ir embora.
Não houve resposta. Apenas uma brisa passando por meus cabelos novamente, e isso me reconfortou...Mas "paz" era uma coisa que, no momento, estava muito longe do meu alcance. 
Ele se deitou na grama ao meu lado, provavelmente esperando que eu o acompanhasse. Afinal, eu seria tão previsível assim?
Deitei-me, mantendo-me a uma distancia considerável. 
As estrelas estavam lindas aquela noite, e aos meus olhos, se misturavam com a fumaça que me mataria aos poucos, formando uma visão de alegria, arrependimento e saudade.
Era o desenho perfeito de um sentimento que eu neguei, reneguei, e escondi.
- Sabe, - comecei - eu ando aprendendo muito com o que venho sentindo...O desapego, por exemplo, tem sido um remédio bem amargo, porém eficaz. Faz com que eu lide melhor com as mudanças do mundo.
- Como assim? - Ele questionou, sem tanto interesse.Traguei novamente, e soltei a fumaça junto de minhas palavras
-Ora, ficar longe das pessoas as vezes é uma grande libertação...É como uma barreira, para proteger a si mesmo.
O que eu não queria admitir, é que na verdade, não era uma solução permanente...Afinal, em poucos minutos, ele havia transformado minha barreira contra o mundo em uma película de vidro. Tão fina quanto um fio de cabelo, como os que se espalhavam pela grama me acompanhando. Ou então, não passavam de pedras, que podiam ser facilmente deslocadas. Ou seja, havia uma falha em tudo isso.
Minhas palavras já não saiam, pois eu sabia que se as soltasse, a verdade seria eminente, totalmente explícita.
A quem eu queria enganar? Eu o amava...Mesmo depois dele ir embora, eu iria sentir seu perfume. Mesmo quando não estivesse por perto, eu iria sentir sua presença.
Eu havia quebrado esse elo. Eu estava aprendendo a viver muito bem sem ele...O desapego, novamente, como um meio de conseguir viver por mim, e não por ele.Nem por mais ninguém.
Uma luta interminável entre coração e razão iniciou-se.
Ficar lá, e deixar a barreira se romper, para reviver a mesma história? Ou guardar as forças e continuar resistindo?
Levantei-me, atirei o que restou do meu cigarro para longe, e soltei os vestígios da minha ultima tragada, juntando ao mesmo tempo, forças para deixar minha voz firme o suficiente para não demonstrar nenhum tipo de fraqueza.
-Você não vai me enganar de novo. Sei que não há interesse em como eu realmente estou. Se houvesse, nenhum de nós estaria aqui esta noite, certo? Pense nisso.
-E você realmente acha que eu nunca pensei em você? - Ele levantou-se em um pulo.-  Que eu não te vejo em cada coisa que faço? Você acha que eu não me arrependi? Ora, afinal, o perdão é mesmo apenas para os fortes, não é? Não é coisa que eu possa esperar de alguém como você, eu ja deveria saber.
Como facas, as palavras vieram para me atingir, mas...Por alguma força que estava além do meu controle, eu peguei essas facas e usei-as para meu benefício.
- A ultima coisa que você pode ousar me chamar nessa vida, é de fraca. O perdão já esta dado. Agora, tolice a minha seria confiar em você novamente. Não vamos esquecer dessa história nunca, não é mesmo? Então sugiro que comece a pensar nela com menos frequência, e, assim como eu, aprenda a usa-la como lição. Logo, a menos que queira procurar problemas, fique BEM longe de mim.
O frio da noite cortava minha pele, mas a tensão do momento fazia com que cada milímetro de mim esquentasse de tal forma, que pude sentir uma gota de suor escorrer por meu pescoço.
Fria, impenetrável, ilesa de qualquer tipo de ferimento que essa noite poderia possivelmente ter me causado, andei até minha moto, e me despedi de onde até então, costumava ser meu santuário, meu lugar de reflexões e de reconhecimento interno.
Ele não ousaria me seguir novamente, a mensagem havia sido bem clara.
A noite estava realmente linda...Uma boa noite para voltar a construir minha barreira. Desta vez, me certificaria de colocar algo a mais para prender pedra por pedra. Para que nunca mais ninguém a derrubasse assim tão facilmente.
Na estrada, viajava contra o vento, e meus cabelos voavam em busca de liberdade.Ainda não podia ir para casa...Mas era o lugar que eu mais desejava estar no mundo, desde o momento em que sai dela a algum tempo. A fraqueza se acentuou, exalando um certo tom nostálgico em minha voz.
- Eu preciso de você aqui...- repetia para mim mesma. Não havia um nome em meu pensamento, e nem uma descrição exata para o que eu quis dizer com aquilo.
Mas a estrada seria longa, e eu teria tempo o suficiente para buscar as respostas dentro de mim.
A escuridão se afugentava cada vez mais ao me aproximar com meus faróis...No entanto o dia ainda estava muito, muito distante. Uma distância que, no momento, me convinha muito. Quanto mais eu pudesse aproveitar a falta de luz, melhor.


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